domingo, 15 de junho de 2014

Uma rosa não é coisa que eu conceba


















Uma rosa não é coisa que eu conceba
Como Arménio Vieira
Para encontrar no fim do caminho da vida
Nem o seu nome me tem presa
Apenas pelo aroma e pelo som
Uma rosa é para pluralizar pelos
Caminhos da vida
Para ter muitas à mão quando me aparecer
Um rei poeta a exigir-me o IVA ou a rima do pão
Para multiplicar perfumes raros
E sonhar com um milagre qualquer
Para ouvir o som    sim   mas repercutido
Rosa rosae rosam rosarum rosis rosis
Sem receio de violar os copyright
Dos herdeiros de Jacques Brell
E como não sou Cristo
Se ficar presa nos espinhos
Acolho-me na corola
Até que a dor ceda
À vontade de me erguer
E continuar a plantar  a regar
Seguindo o meu destino áureo-mediano
Sem nada perguntar a flácidos mestres
Nem a rosas secas
Velhos marcadores de leitura
Nem a rosas  metafóricas
Dos jardins da literatura
Até porque a resposta já a deu um monge
Da Silésia de outrora
La rose est sans porquoi
Elle fleurit parce qu’elle fleurit.

Afinal terás alguma razão poeta camonizado
Pois a morte também vem da mesma maneira
E se não fleurit     ri
De quem sonha encontrar uma rosa
No ocaso
E vive preso a sons e aromas
De nomes
E rirá também de mim
Que não posso adiar as rosas para esse fim.

(Fotografia de Paulo Moura)

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Duas biografias para um poeta




I. Segundo uma leitora
 
A mãe pariu-o com tanta alegria, que nem precisou de ajuda. O menino, assim que viu a luz baça do mundo, escreveu trinta e tantos poemas a fio, com a luz branda e um pouco fria do sorriso dos anjos. Mesmo sem a perturbação dos elementos da natureza, fatalmente presentes em casos símiles, o prodígio do poeta sorridente ao recém-nascer levou a puérpera a considerar-se progenitora duma deidade libertadora das infelicidades humanas: a tristeza, a dor de pensar, a angústia da morte.
Viveu mais inconjunto do que morreu. Deu-lhe o sono como a qualquer criança, fechou os olhos e dormiu.
Deixou obra, discípulos, apóstolos que espalharam a boa-nova pelos quatro cantos do mundo. Os poucos que seguem a lição da natureza, assumindo a ficção da sua simplicidade, são olhados com desconfiança pela maioria, represada pelo desassossego. Mas a sua poesia continua a reverberar uma música suave que abre sorrisos delicados. Talvez tenha sido mais maestro do que Mestre.

II. Segundo o próprio

«Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.»

(16 de Abril de 1889 – Junho de 1915)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Matemática dos simples

Gastar + Não gastar = Crise
Floresta + Lixo = Natural
James Joyce < José Rodrigues dos Santos